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Avanços e dilemas da reprodução assistida – O papel da psicologia

As questões relacionadas à fertilidade sempre representaram um grande desafio ao humano em sua trajetória existencial.  Há como que uma norma histórico-social que dita o dever de se multiplicar, e está para além do desejo individual. Assim, várias foram as formas de “sanar” a ausência involuntária de filhos, em diversas épocas e culturas, de natureza médica, social e, inclusive espiritual.

O possível primeiro registro de inseminação artificial (IA) data de 1332, realizada por árabes em equinos, embora o primeiro registro científico tenha ocorrido em 1779, quando o italiano Lázaro Spalanzani  realizou o procedimentos em cães.

De lá para cá, foram várias as tentativas de se reproduzir a natureza, em uma verdadeira corrida pelo desenvolvimento de técnicas reprodutivas específicas, até que finalmente no século XX, em 1978, se obteve a primeira fertilização in vitro (FIV) bem sucedida, na Inglaterra, da qual nasceu Louise Brown, primeiro bebê de proveta, no mundo, hoje com 41 anos.

Com este marco, o desenvolvimento da biotecnologia reprodutiva disparou, agregando um arsenal de procedimentos que propiciou uma nova possibilidade de se conceber filhos, quando isso não é possível naturalmente. Ou seja, diante da infertilidade, que no passado só poderia ser resolvida pela adoção ou aceitação da vida sem filhos, ganhou-se uma nova e inédita chance para gerar filhos biológicos, agora com suporte da reprodução assistida. Sem dúvida, um acontecimento sem precedentes históricos, uma nova opção para a tomada de decisão de formar família.

Hoje presenciamos grandes avanços no aperfeiçoamento das técnicas, aplicáveis a diversas circunstâncias de obstáculos à fertilidade natural. Um exemplo é a recepção/doação de gametas quando há a presença de baixa reserva ovariana ou baixa contagem e motilidade de espermatozoides, ou outra condição que demande a necessidade do uso de gametas de doador/doadora. Embora seja atualmente muito conhecida e empregada, visto que há registros de milhares de crianças no mundo nascidas por meio desta possibilidade reprodutiva, tal situação costuma trazer alguns questionamentos a quem dela necessita.

Dúvidas relacionadas à importância do fator genético na constituição da personalidade do filho concebido por gameta doado, na sua aparência física, na questão do apego à criança, na vinculação afetiva dos pais à ela e vice-versa, os conflitos oriundos do contar ou não à criança sobre sua origem genética, do contar ou não a outras pessoas, do que é realmente ser mãe, ser pai, genético, biológico, afetivo-social, provável aparecimento de sentimentos ambivalentes, repercussões à família nuclear e à família extensa podem surgir como fatores de dilemas aos casais e indivíduos que necessitam de gametas de terceiros para realizar o sonho da parentalidade. E inevitáveis vivências de desgaste psicoemocional, muitas vezes não previstas, podem aparecer.

Daí a importância de se disponibilizar a atenção psicológica às pessoas que buscam ajuda nos tratamentos reprodutivos, integrada ao trabalho da equipe multiprofissional dos serviços, cujo papel é relevante na orientação e acompanhamento, antes, durante e depois dos tratamentos reprodutivos.

A necessidade de se oferecer espaço de acolhimento a questionamentos, incertezas, dores, conflitos, pode contribuir para redução do mal estar psicoemocional decorrente da vivência da infertilidade, promovendo tomadas de decisão mais conscientes. Mas também colabora para favorecer à pessoa ou ao casal, a compreensão e a ressignificação sobre a história de formação da família que está sendo construída, e que é única. Desta forma, com possibilidades de se alcançar respostas aos seus diversos questionamentos.

Psicóloga Kátia Maria Straube

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