Reprodução Assistida aumenta chances de maternidade em mulheres com endometriose
A endometriose é a proliferação anormal fora do seu local habitual de células semelhantes às que revestem a parede interna do útero. Com isso, focos se desenvolvem nos ovários, nas trompas ou até mesmo em regiões vizinhas, como intestino e bexiga, provocando reações inflamatórias que podem se manifestar como doença progressiva e induzir a ocorrência de dor pélvica crônica, cólicas menstruais, ciclo menstrual irregular e infertilidade, dentre outros sintomas.
O mecanismo da endometriose associado à infertilidade está relacionado aos distúrbios ovulatórios, à redução do número e/ou da eficiência da reserva de óvulos, à distorção da anatomia pélvica por reação inflamatória e à produção de toxinas locais que podem prejudicar a interação entre óvulo e espermatozóide, bem como interferências na implantação do embrião.
Todavia, técnicas de reprodução humana assistida (RHA) aumentam as chances de realizar o sonho da maternidade porque proporcionam expressivos ganhos no que concerne à correção desses distúrbios. Esse tipo de tratamento deve ser escolhido conforme a idade da paciente, o histórico familiar, o tempo de infertilidade, o grau da doença e as condições tubárias e dos espermatozoides.
Para Hitomi Nakagawa, especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), caso o objetivo da paciente com endometriose seja engravidar, a reserva de óvulos e a ocorrência de outras causas que, por ventura, a impeçam de ter filhos de maneira natural serão decisivas.
Ela ressalta que a reprodução assistida é muito indicada em casos de infertilidade por endometriose. “Devido aos múltiplos mecanismos envolvidos e nem sempre bem esclarecidos, a RHA é a técnica que atualmente preserva melhor os órgãos e permite melhores resultados. Na presença de dor ou outro processo que contraindique a solução, o tratamento cirúrgico seria outra opção”, afirma.
A DOENÇA – Embora seja uma doença benigna, ou seja, não cancerosa, a endometriose pode causar frequentes distúrbios de ovulação e desencadear outros sintomas que não devem ter sua importância minimizada, tais como depressão, problemas de relacionamento afetivo e dificuldades de ordem sexual. Boa parcela das mulheres só descobre que tem a doença quando encontra dificuldade para engravidar.
“A endometriose ainda é revestida de muitos enigmas, inclusive há congressos mundiais que focam no tema. Existem mulheres totalmente assintomáticas em que a endometriose só é detectada numa cesariana ou em um procedimento cirúrgico realizado para solucionar outro problema. Um dos fatores relacionados à doença diz respeito à imunidade, que pode sofrer interferências das variações de humor e da pressão psicológica”, adverte a Dra. Hitomi Nakagawa.
Não há como estabelecer precisamente as causas da endometriose. Fatores hereditários, toxinas ambientais, sistema imunológico comprometido ou a ocorrência ininterrupta de menstruação irregular (mês após mês) também podem estar associados aos princípios da endometriose.
TRATAMENTO – A endometriose é uma condição crônica que regride progressivamente com a menopausa devido à queda na produção dos hormônios ovarianos. O tratamento visa a reduzir a dor, a inflamação e os desconfortos. Ele consiste em técnicas e procedimentos que envolvem desde o bloqueio hormonal até mesmo a intervenção cirúrgica. Mulheres mais jovens podem utilizar o anticoncepcional hormonal ou medicamentos análogos do GnRH que suspendam a menstruação e a produção do estrogênio.
Segundo Hitomi Nakagawa, cerca de um terço das mulheres inférteis podem ter endometriose. “Um dos grandes esforços que as sociedades médico-científicas têm feito é para que os diagnósticos sejam cada vez mais precoces, mesmo em adolescentes. Como a doença tende a evoluir a cada ciclo menstrual (com o aumento do estrogênio), uma das maneiras utilizadas para minimizar o processo é o bloqueio hormonal e a suspensão dos picos hormonais e da menstruação”, ressalta a presidente da SBRA.
É necessário que as mulheres façam consultas ginecológicas periodicamente e, sempre que houver a indicação médica, façam exames de imagem, visto que a endometriose pode ser uma doença de difícil diagnóstico por meio dos exames realizados durante a consulta de rotina. Ainda não há cura, mas é possível combater os transtornos que a doença causa, possibilitar a gravidez e, em muitos casos, até mesmo anular os sintomas.
Fonte: Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida