Gestação com doação de óvulo ou esperma não afeta bem-estar emocional da criança
A decisão de uma gravidez através da adoção de gametas ou embriões é mais uma das possibilidades oferecidas pela Reprodução Assistida. No entanto, decidir por essa alternativa, costuma gerar muitas incertezas nos futuros pais.
A Revista ISTOÉ publicou recentemente uma matéria sobre o tema, para a qual o nosso Diretor e Presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Dr. Álvaro Ceschin, concedeu uma entrevista.
Dados de um estudo inédito, que acompanhou famílias por 20 anos, mostram que a falta de um laço biológico não afeta os vínculos emocionais nem o bem-estar na vida adulta. Usado como referência na matéria, este estudo aponta aspectos importantes das questões emocionais de pais e filhos e a importância da transparência nas relações. Além do estudo, o depoimento de uma mãe, que passou pela experiência de engravidar com óvulos doados, reforça que os vínculos afetivos vão muito além do DNA.
Leia na íntegra a matéria da ISTOÉ e entenda mais sobre os aspectos envolvidos na decisão pela gravidez através da doação.
Gestação com doação de óvulo ou esperma não afeta bem-estar emocional da criança
Filhos que foram gestados em uma barriga de aluguel ou concebidos por meio de doação de óvulo ou de esperma não se sentem diferentes dos demais – e isso também não afeta a saúde emocional deles. Isso é o que sugere um estudo inédito, que acompanhou famílias por 20 anos, e constatou que a falta de um laço biológico não afeta os vínculos emocionais nem o bem-estar na vida adulta.
Durante as duas décadas, os pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, compararam 65 famílias com história de reprodução assistida envolvendo uma terceira parte e 52 que haviam concebido naturalmente. Os voluntários responderam questionários e entrevistas em vários momentos ao longo do tempo. Em geral, todas tinham uma boa dinâmica e um desenvolvimento saudável similar.
Por outro lado, a transparência sobre a história de vida familiar entre pais e filhos se mostrou um ponto importante. O levantamento apontou que, caso os pais decidam contar sobre o modelo de concepção, que isso seja feito enquanto os filhos ainda são crianças. Segundo o estudo, as relações eram mais positivas entre aqueles que haviam contado a história completa mais cedo – algo que já foi observado em estudos com filhos via adoção.
A grande maioria dos casais optou por abordar o assunto ainda na fase pré-escolar da criança, entre os 4 e os 7 anos de idade. Entre os jovens avaliados e que conheciam sua origem, os que souberam ainda na infância tinham melhores índices de satisfação no relacionamento com os pais, na comunicação e no bem-estar psicológico. Além disso, as mães que conversavam sobre o assunto com os filhos desde pequenos sofriam menos de ansiedade e depressão.
“Ainda há casais com uma tendência a omitir esse fato porque temem a falta de aceitação”, observa Álvaro Ceschin, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida. “Mas não recomendamos começar um relacionamento com um segredo, pois isso permeia todo o processo. Sempre recomendamos a transparência, contar no momento oportuno, mostrando que esse filho foi extremamente desejado e que não é menos filho por ter sido gerado dessa forma”, afirma. O especialista defende que o trabalho e o processo da família em conjunto com o psicólogo é fundamental nesses casos.
Pais relutantes
O estudo também mostrou que pais que precisaram recorrer à doação de esperma são os mais relutantes em revelar essa opção. Enquanto menos da metade deles (42%) tinha partilhado a decisão com os filhos, 88% dos concebidos por doação de óvulo sabiam disso, assim como todos os gestados em barriga de aluguel. “Ao contrário da mulher, que vive a gravidez, às vezes para o homem é mais difícil admitir a necessidade de recorrer à doação, mas isso não faz dele menos pai”, diz Ceschin.
Em entrevista à Agência Einstein, Laura, 50 anos, que é mãe de Ana e pediu para não ser identificada, conta que pensava em ter filhos, mas estava focada em estudar, trabalhar e fazer mestrado. “A vontade de ser mãe só bateu com força depois dos 40. Procurei o médico para avaliar as possibilidades e, como ainda estava ovulando, tentamos primeiro a estimulação ovariana. Mas não consegui engravidar naturalmente”, disse.
Por isso, ela recorreu a uma doação de óvulos: “Entendi que, nesse processo, o bebê não teria meu DNA, mas, para mim, o fato de estar dentro do meu útero, recebendo meus estímulos, alimentação, estilo de vida, além do lado emocional, influencia quem ele viria a ser. E tudo foi muito mágico, muito amoroso, desde o momento da transferência do embrião até o parto”, recorda Laura.
Ela e o marido optaram em não contar sobre a decisão para a família pois não queriam que houvesse nenhum tipo de preconceito envolvendo a criança. “O processo já é extremamente desgastante emocionalmente, financeiramente e gera muita ansiedade. Eu não conseguiria lidar com olhares e julgamentos. E eles ainda não sabem. Por isso também ainda não decidimos sobre como contar para nossa filha. Mas acho que teremos que falar a respeito quando ela crescer, ela tem que saber”, diz sobre a filha Ana, que está com dois anos.
“Hoje, sinceramente, isso não é algo presente, até esqueço. Ela é minha filha e pronto. E sou apaixonada por ela. As pessoas falam que ela se parece muito com o pai mas que tem muitas coisas minhas – acho que é o jeito de ser. Hoje só tenho a agradecer a tecnologia e a evolução da medicina que me permitiu ser mãe.”
No estudo, os autores ressaltam que para ter uma família feliz, o amor e o cuidado são fatores muito mais importantes do que o elo genético.
Fonte: Agência Einstein